Teatro do oprimido
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Teatro
do Oprimido (TO) é um método teatral que
reúne exercícios, jogos e técnicas teatrais elaboradas pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal.
Os seus principais objetivos são a democratização dos meios de produção
teatral, o acesso das camadas sociais menos favorecidas e a transformação da
realidade através do diálogo (tal como Paulo Freire pensou
a educação) e do teatro. Ao mesmo tempo, traz toda uma nova técnica
para a preparação do ator que tem grande repercussão mundial.
A
sua origem remete ao Brasil das décadas de 60 e 70, mas o termo é citado
textualmente pela primeira vez na obra Teatro do oprimido e outras
poéticas políticas. Este livro reúne uma série de artigos publicados por
Boal entre 1962 e 1973, e pela primeira vez sistematiza o corpo de idéias desse
teatrólogo.
Metodologia
O Teatro
do Oprimido é um método estético que sistematiza Exercícios, Jogos e Técnicas
Teatrais que objetivam a desmecanização física e intelectual de seus
praticantes, e a democratização do teatro.
O TO
parte do princípio de que a linguagem teatral é a linguagem humana que é
usada por todas as pessoas no cotidiano. Sendo assim, todos podem desenvolvê-la
e fazer teatro. Desta forma, o TO cria condições práticas para que o oprimido
se aproprie dos meios de produzir teatro e assim amplie suas possibilidades de
expressão. Além de estabelecer uma comunicação direta, ativa e propositiva
entre espectadores e atores.
Dentro do
sistema proposto por Boal, o treinamento do ator segue uma série de proposições
que podem ser aplicadas em conjunto ou mesmo separadamente.
Cumpre
ressaltar que todas as técnicas pressupõem a criação de grupos, onde o Teatro
do Oprimido terá sua aplicação.
Teatro Jornal
O
Teatro-Jornal foi uma resposta estética à censura imposta, no Brasil, no início
dos anos 70, pelos militares, para escamotearem conteúdos, inventarem verdades
e iludirem. Nesta técnica, encena-se o que se perdeu nas entrelinhas das
notícias censuradas, criando imagens que revelam silêncios. Criada em 1971, no
Teatro de Arena de São Paulo, esta técnica foi muito utilizada na época da
ditadura militar brasileira, para revelar informações distorcidas pelos jornais
da época, todos sob censura oficial. Ainda hoje é usada para explicitar as
manipulações utilizadas pelos meios de comunicação.
Teatro
Imagem
No
Teatro-Imagem, a encenação baseia-se nas linguagens não-verbais. Essa foi uma
saída encontrada por Boal para trabalhar com indígenas, no Chile, de etnias
distintas com línguas maternas diversas, que participavam de um programa de
alfabetização e precisavam se comunicar entre si. Esta técnica teatral
transforma questões, problemas e sentimentos em imagens concretas. A partir da
leitura da linguagem corporal, busca-se a compreensão dos fatos representados
na imagem, que é real enquanto imagem. A imagem é uma realidade existente
sendo, ao mesmo tempo, a representação de uma realidade vivenciada.
Teatro Invisível
O
Teatro-Invisível que, sendo vida, não é revelado como teatro e é realizado no
local onde a situação encenada deveria acontecer, surgiu como resposta à
impossibilidade, ditada pelo autoritarismo, de fazer teatro dentro do teatro,
na Argentina. Uma cena do cotidiano é encenada e apresentada no local onde
poderia ter acontecido, sem que se identifique como evento teatral. Desta
forma, os espectadores são reais participantes, reagindo e opinando
espontaneamente à discussão provocada pela encenação.
A
preparação do Teatro Invisível deve ser como a de uma cena normal, reunindo os
principais elementos: atores interpretando personagens com caracterizações,
idéia central; deve haver um roteiro pré-estabelecido, apresentando princípio,
meio e fim e que deve ser ensaiado. A diferença consiste em ser uma modalidade
que não revela ao público tratar-se de uma representação.
Teatro-Fórum
A
dramaturgia simultânea era uma espécie de tradução feita por artistas sobre os
problemas vividos pelo povo. Aí nasceu o Teatro-Fórum, onde a barreira entre
palco e platéia é destruída e o Diálogo implementado. Produz-se uma encenação
baseada em fatos reais, na qual personagens oprimidos e opressores entram em
conflito, de forma clara e objetiva, na defesa de seus desejos e interesses. No
confronto, o oprimido fracassa e o público é estimulado, pelo Curinga (o
facilitador do Teatro do Oprimido), a entrar em cena, substituir o protagonista
(o oprimido) e buscar alternativas para o problema encenado.
Arco-Íris do Desejo
Nos anos
de 1980, na França, Augusto Boal e Cecília Boal se deparam com opressões
ligadas à subjetividade, sem relação com uma agressão física ou um impedimento
concreto na vida cotidiana. Um arsenal de técnicas que analisam os opressores
internalizados, o Arco-Íris do Desejo, foi a resposta a esta demanda. Conhecido
como Método Boal de Teatro e Terapia, é um conjunto de técnicas terapêuticas e
teatrais utilizadas no estudo de casos onde os opressores foram internalizados,
habitando a cabeça de quem vive oprimido pela repercussão dessas idéias e
atitudes.
Teatro Legislativo - Início em 1993
Evolução: a Estética do Oprimido
O resultado de 25 anos sem
exercitar plenamente esse direito criou um vácuo que ainda hoje tem reflexos na
falta de politização da grande maioria da população. Consequência de 25 anos
amordaçada, engessada de um direito fundamental, estabelecido e reconhecido
desde a Grécia de Platão. Que levou à cassação do primeiro presidente eleito
após o período de ditadura. Mas durante a movimentação popular, e por causa
dela, no período da campanha de cassação desse presidente, surgiu algo novo na
política brasileira e, podemos até dizer, mundial: O TEATRO LEGISLATIVO. Que
sabemos, até agora a única experiência de um grupo teatral tomar assento no
Legislativo.
“O Teatro Legislativo é um
novo sistema, uma forma mais complexa, pois inclui todas as formas anteriores
do Teatro do Oprimido e mais algumas, especificamente parlamentares. Espero que
esta experiência sirva, além do nosso mandato, além do nosso partido, além da
nossa cidade, muito além. Espero que seja útil” Augusto Boal – Livro Teatro
Legislativo – pg. 9
E tudo começou em 1992
quando Augusto Boal, teatrólogo, diretor de teatro e escritor – criador da
Metodologia do Teatro do Oprimido – convencido por cinco tenazes Curingas
(versão tupiniquim dos Três Mosqueteiros) do Centro de Teatro do Oprimido –
CTO, e mais alguns grupos de alucinados praticantes de Teatro-Fórum (inclusive
eu e Helen Sarapeck, que também é da equipe do CTO até hoje, que na época
integravamos o grupo Ararajuba na Moita, formado por ativistas do Movimento
ambientalistas do Rio de Janeiro) o convenceram a candidatar-se a Vereador nas
eleições municipais daquele ano.
Boal disse que aceitaria
ser candidato se esses grupos e pessoas praticantes do Teatro do Oprimido
aceitassem participar da campanha eleitoral para fazermos como ainda não
houvera: uma campanha teatral.
“E também porque eu não
corro o menor risco de ser eleito, mas se fosse levaríamos o Teatro do Oprimido
para o Legislativo”.
A Campanha Político
Teatral Augusto Boal foi às ruas do Rio e… Augusto Boal foi eleito! E a citação
inspirou o nome de mais uma técnica do Teatro do Oprimido: TEATRO LEGISLATIVO.
Então, em 1 de janeiro de
1993, teve início essa inusitada e ousada experiência que se concretizou
através de um trabalho integrado entre um grupo teatral formado por biólogos,
químicos, sociólogos, universitários, bancários, artistas plásticos, donas de
casa, estudantes secundaristas e assessores legislativos. Com direção artística
de um ex-químico industrial já reconhecido mundialmente como teatrólogo e
criador da Metodologia do Teatro do Oprimido. E, a partir desse mandato de
vereador, também mentor do Teatro Legislativo. Que em sua essência procura
devolver o teatro ao centro da ação política – centro de decisões.
Fazer teatro como política
e não apenas teatro político já realizado intensamente ao longo dos séculos 19
e 20, inclusive no Teatro de Arena de São Paulo, onde Boal foi diretor.
No Teatro Legislativo (TL)
a atividade política é exercida para transformar em lei a necessidade expressa
e debatida de forma lúdica através da cena de Teatro-Fórum. Ou seja, é fazer
política mesmo por pessoas que declaram que “não querem saber de política”.
Frase que expressa o descontentamento com a atuação de representantes eleitos.
Com o TL as pessoas percebem que fazer política é da própria natureza humana.
Que tudo é uma ação política, inclusive dizer que não quer saber de política.
Porque quem diz isso faz a ação política de recusar-se a fazer algo para mudar
alguma situação que a oprime.
Assim, para mudar esse
formato, no início do Mandato Político Teatral Augusto Boal, com o lema
“Coragem de Ser Feliz”, a equipe de Curingas (especialistas no Teatro do
Oprimido) do Centro de Teatro do Oprimido partiu para a prática através da
formação de grupos de Teatro-Fórum em comunidades, escolas, associações de
moradores, igrejas, estudantes negros universitários, trabalhadoras domésticas,
trabalhadores rurais sem terra, pessoas portadoras de deficiência física,
jovens que viviam nas ruas, etc. Uma lista completa pode ser consultada no
livro Teatro Legislativo.
A Prática
Chegamos
a formar 60 Núcleos de Teatro do Oprimido dos quais 33 permaneceram estáveis.
Para se ter uma idéia mais precisa da forma como trabalhávamos, reproduzo a
descrição da página 66 do livro Teatro Legislativo sobre como o Mandato
Político Teatral Augusto Boal trabalha em conjunto com a população:
“O Rio é
uma cidade de contrastes: extrema riqueza à beira da praia, pobreza extremada
no alto dos morros – cidade espremida entre a montanha e o mar.
Nessa
cidade organizamos uma rede de parceiros, “Núcleos” e “Elos”, tendo cada qual a
sua importância e especificidade.
Um Elo é
um conjunto de pessoas da mesma comunidade e que se comunica periodicamente com
o Mandato, expondo suas opiniões, desejos e necessidades. Essa relação pode-se
dar através da presença na Câmara Municipal, na comunidade ou em outros locais
onde se realizem atividades do Mandato. Pode-se dar pessoalmente, através da
Câmara na Praça ou da Mala Direta Interativa.
Um Núcleo
é um elo que se constitui em grupo de Teatro do Oprimido e, ativamente,
colabora com o Mandato de forma mais freqüente e sistemática.”
Como essa
experiência era única, as dificuldades também. Porque era o desenvolvimento de
uma ideia cuja pesquisa e a prática aconteciam ao mesmo tempo e com prazo de
validade para apresentar resultados concretos. E muitas descobertas reveladoras
de como a cidadania pode ser praticada com intensidade por toda a população. É
só ter oportunidade. Por exemplo:
Durante o
Mandato realizávamos diversas atividades para incentivar esse protagonismo:
através das cenas de Teatro-Fórum (TF) dos grupos populares às Sessões de
Teatro Legislativo. Até a Câmara na Praça, quando um dos grupos apresentava sua
cena de TF na calçada em frente ao prédio da Câmara dos Vereadores, na
Cinelândia. As escadarias serviam de arquibancada e uma lona para o chão e uma
estrutura de fundo (que chamávamos de “palquinho”) delimitavam o Espaço Cênico.
A(o)s
vereadora(e)s eram convidada(o)s a participarem porque a ideia era reproduzir
na rua o que acontecia (ou deveria) no plenário. No máximo contávamos com a
presença de 4 ou 5 (cerca de 10%), porque não era fácil para a grande maioria
ficar frente a frente a eleitora(e)s em geral, para debaterem problemas e
votações muitas vezes polêmicas.
E se era
dia de votação no Plenário, as pessoas eram convidadas a entrar. Quase a
totalidade jamais havia entrado sequer no prédio, muito menos para acompanhar
uma votação. E ficavam surpresas ao convidarmos. Muitas entravam e depois
diziam que gostariam de retornar. Faziam questão de pegar os contatos do
Mandato e algumas vezes perguntavam o que era necessário para terem uma oficina
de TF em sua comunidade ou bairro.
Essa era
uma das formas do Teatro Legislativo ativar o EXERCÍCIO PLENO DA CIDADANIA.
Através
dessa verdadeiramente Revolucionária iniciativa foram aprovadas 13 Leis
Municipais, e vários outros Projetos de Lei que não foram aprovados porque a
maioria da(o)s vereadora(e)s não comungavam da mesma prática do Mandato Boal de
incentivar a
CIDADANIA
PLENA.
Também foi originada a
proposta que resultou em 1997, após o final do Mandato, na Primeira Lei
brasileira de Proteção às Testemunhas de Crimes, que veio a inspirar a Lei
Federal de Proteção às Testemunhas.
O Desafio – 1997
Em dezembro de 1996
terminou o Mandato Político Teatral Augusto Boal, que devido a riqueza da
experiência motivou novamente outros quatro novos Curingas, mais Claudete Felix
oriunda do primeiro grupo de multiplicadora(o)s formada(o)s por Boal em 1986, a
continuarem a trabalhar com essa ideia de Exercício Pleno da Cidadania agora
com o desafio de fazer o Teatro Legislativo sem a ligação orgânica com um
vereador, que existia até então.
Assim, o CTO foi
registrado como Pessoa Jurídica na forma de Associação Sem fins Lucrativos,
para criar as condições jurídicas necessárias na busca de apoio a projetos que
possibilitassem a equipe do CTO, com Augusto Boal como Diretor Artístico mais
a(o)s Curingas Bárbara Santos, Claudete Felix, Geo Britto, Helen Sarapeck e
Olivar Bendelak, vencer esse Desafio. Exceto Claudete, éramos oriundos de
Grupos de Teatro-Fórum.
Em 1998 conseguimos apoio
da Fundação Ford que possibilitou a criação de sete novos grupos populares de
Teatro-Fórum, com temáticas sobre gravidez precoce; prevenção às DST/AIDS;
homossexualidade; direitos da(o)s trabalhadora(e)s doméstica(o)s; preconceito
com moradora(e)s de comunidades e problemas para manter um pré-vestibular
comunitário. Com esses grupos continuamos a fazer apresentações das cenas e a
recolher Propostas de Lei das platéias.
Agora que não tínhamos
mais os Assessores Legislativos do Mandato de vereador, começamos a fazer
contato com os gabinetes de vereadora(e)s e deputada(o)s estaduais em busca de
parlamentares interessada(o)s em fazer parceria para continuarmos com o TL.
Poucos tinham interesse em
apoiar essa iniciativa que de fato incentiva o EXERCÍCIO PLENO DA CIDADANIA, já
que marcávamos reuniões nos gabinetes e no CTO, entre a(o)s parlamentares e
sua(e)s assessora(e)s com a(o)s integrantes dos grupos populares. Além de
solicitarmos suas presenças nas apresentações para presenciarem como apareciam
as Propostas
de Lei da platéia.
Após uma das reuniões no
gabinete de um deputado estadual, uma jovem integrante de um grupo popular de
TF de uma comunidade da Zona Norte da cidade expressou sua alegria e admiração:
“Eu achava que nem
passaríamos da sala de espera do gabinete e fomos recebida(o)s pelo próprio
deputado, dentro da sala dele para debatermos as Propostas de Lei que
recolhemos.”
Essa jovem começava a
perceber que Exercia Plenamente sua Cidadania.
Quanta(o)s eleitora(o)s no
Brasil já entraram em um gabinete parlamentar para debater Propostas de Lei,
que ela(e)s própria(o)s recolheram, de alternativas aos seus problemas?
Posso dizer que, desde
1997, centenas de pessoas que integram os grupos populares de TF, se ainda não
fizeram isso, sabem que podem fazê-lo.
Desafio vencido – 2001
E de uma alternativa do
grupo popular de TF Corpo EnCena, de uma comunidade do Rio, que ainda não havia
encontrado alternativas para ter professora(e)s voluntária(o)s em seu
Pré-Vestibular Comunitário surgiu A PRIMEIRA LEI ESTADUAL DO TEATRO
LEGISLATIVO.
O que comprovava que era
possível continuar a fazer TL mesmo sem ter mais um parlamentar ligado
diretamente, como era Boal quando vereador.
E como que para reafirmar
essa possibilidade, em 2004 tivemos uma segunda Lei Estadual aprovada,
originada das apresentações do grupo Panela de Opressão, de comunidade da Zona
Oeste do Rio, sobre obrigatoriedade de camisinhas femininas em motéis, hotéis e
similares. Essa cena também deu origem a um Projeto de Lei Municipal que não
teve maioria em votação no Plenário da Câmara Municipal.
Para levar essa riquíssima
experiência de uma Sessão Solene Simbólica de Teatro Legislativo ao público em
geral o CTO realizou no Rio cinco edições do FESTEL – Festival de Teatro
Legislativo, com apresentações de grupos do Rio, São Paulo e Recife. Onde todas
as quatro noites aconteceram apresentações de cenas de Teatro-Fórum com as
Sessões de TL. Com a presença de Assessores Legislativos e pessoas conhecedoras
da temática da cena, para que se possa debater e esclarecer sobre as Propostas
escritas pela platéia (em uma Sessão solene escolhemos duas propostas que sejam
as mais objetivas e representativas) para que se faça a votação. Para isso são
distribuídos a cada pessoa da platéia um cartão Verde (Aprova), um Vermelho
(Rejeita) e um Amarelo (abstenção).
As propostas aprovadas é
que são encaminhadas ao Legislativo ou a para uma Ação Social Concreta
Continuada, caso o problema não requeira uma lei e sim uma mobilização –
indicação que pode aparecer na intervenção da platéia (Fórum) e por escrito.
Por exemplo: caso o
problema seja dotar o Posto de Saúde da Comunidade de equipamentos novos. Para
isso não é necessária uma lei, mas a mobilização da Comunidade para pressionar
a Secretaria Municipal de Saúde. E para isso a cena de TF pode ser apresentada
em frente a essa Secretaria para pressionar que o Secretário de Saúde receba o
grupo e representantes da Comunidade e se comprometa, com prazo determinado, a
resolver a situação.
Um novo marco – CLP
Até 2005 tínhamos mais de
cem (100) Propostas de Lei e algumas eram, de acordo com as assessorias de
veradora(e)s e deputada(o)s então parceira(o)s, de cunho Federal. Já havíamos
encaminhado a um deputado federal, mas sem conseguir ter retorno efetivo.
Essa necessidade nos levou
a começar a visitar a página da Câmara dos Deputados Federais. Foi assim que
descobrimos que existia a Comissão de Legislação Participativa – CLP, canal
efetivamente democrático para a população brasileira propor leis sem depender
da intermediação de um(a) deputado(a) específico(a). As Sugestões Legislativas
(denominação utilizada pela CLP) podem ser apresentadas por qualquer
instituição brasileira que seja registrada juridicamente, como o Centro de
Teatro do Oprimido, por exemplo. Assim, enviamos as Propostas de Lei e
atualmente temos três Projetos de Lei federais em tramitação na câmara dos
Deputados e uma transformada em indicação ao Executivo.
Em duas oportunidades foi
agendada uma Audiência Pública na Câmara dos Deputados, através da CLP, sobre o
Teatro Legislativo com foco no Teatro do Oprimido nas Prisões. As duas tiveram
que ser canceladas, por problemas de greve na aviação e convocação para votação
urgente na Câmara.
Pretendemos fazer essa
audiência em nova oportunidade para que o Teatro Legislativo seja debatido e
mais conhecido no Congresso Nacional.
O Teatro Legislativo
difundido no Brasil
A partir do projeto Teatro
do Oprimido nas Prisões, desde sua primeira etapa iniciada em 2003 em cinco
Estados do Brasil, o Teatro Legislativo começou a ser difundido para além do
Rio de Janeiro. Nas Mostras Estaduais e Regionais desse projeto a equipe do CTO
começou a realizar Sessões Solenes Simbólicas de Teatro Legislativo, que
originaram Propostas de Lei, algumas de âmbito federal. O que originou dois
Projetos de Lei Federais e a indicação ao Executivo.
Atualmente, com os
projetos Fábrica de Teatro Popular Nordeste (em três Estados) e Teatro do
Oprimido de Ponto a Ponto (em 18 Estados) o TL se expande ainda mais através
das Sessões Simbólicas realizadas nas Mostras desses projetos.
Desafio maior
Comprovamos que é possível
a aprovação de leis mesmo sem um parlamentar ligado diretamente ao TL, mas
também essa experiência nos mostra que a MOBILIZAÇÃO é essencial para que o
acompanhamento de todas as etapas SEJA EFETIVO, desde o acolhimento de uma
proposta por um(a) parlamentar ou pela CLP – Comissão de Legislação
Participativa (no caso da Proposta ser de âmbito federal) até se tornar um
projeto de Lei e daí para a aprovação como Lei.
Quando o grupo popular já
participa e/ou realiza mobilizações para lutar por seus direitos a motivação
para acompanhar e pressionar até o final, que pode ser a aprovação de uma lei,
é mais natural.
Quando ainda não existe
essa ativação política é que se apresenta o desafio para que o grupo perceba
que só haverá o avanço se houver a mobilização. Como escreveu o poeta:
“Caminhante, não há caminho, ele se faz ao caminhar.”
Também é importante que
a(o)s praticantes de Teatro-Fórum percebam que para se fazer o Teatro
Legislativo não é necessário fazer uma Sessão Simbólica de Teatro Legislativo.
O principal é recolher Propostas de Lei por escrito em cada apresentação,
debatê-las com o grupo popular, fazer contato com especialistas no tema e
assessores legislativos para ver quais podem originar Projetos de Lei. Foi
assim com as duas leis estaduais do Teatro Legislativo no Rio de Janeiro: do
Corpo EnCena e do Panela de Opressão.
Conclusão
É fato comprovado que o
TEATRO LEGISLATIVO promove de fato o Exercício pleno da Cidadania, que em si é
um exercício que deve ser permanente. Ou seja, o exercício do Teatro-Fórum nos
leva ao Teatro Legislativo, que leva às Leis, que nos garantem o exercício da
Cidadania. Mas esta só é alcançada se exercitarmos cotidianamente esse
possibilidade de ser cidadã(o), através da busca por alternativas para nossos
problemas, que começa quando saímos da passividade.
Como Augusto Boal
escreveu, praticou e lutou incansavelmente, desde 1992 até maio de 2009, com a
equipe do Centro de Teatro do Oprimido que o ajudou no nascimento e
desenvolvimento do Teatro Legislativo: “Cidadão não é aquele que vive em
sociedade - é aquele que a transforma!”
As iniciativas de Boal e
do CTO-Rio, dentro dos propósitos do Teatro do Oprimido vêm sendo ampliadas
constantemente. Assim, integrando o Sistema, está sendo desenvolvida a
"Estética do Oprimido". Esta tem por fundamento a certeza de que
somos todos melhores do que pensamos ser, capazes de fazer mais do que
realizamos, porque todo ser humano é expansivo.
A proposta é promover a
expansão da vida intelectual e estética de participantes de Grupos Populares de
Teatro do Oprimido, evitando que exercitem apenas a função de ator, que
representa personagens no palco. Os integrantes desses grupos são estimulados,
através de meios estéticos, a expandirem a capacidade de compreensão do mundo e
as possibilidades de transmitirem aos demais membros de suas comunidades - bem
como aos de outras - os conhecimentos adquiridos, descobertos, inventados ou
re-inventados. (2007).