João Santiago. Teólogo, Poeta e Militante.
Educador Popular das CEBs no Paraná.
Mestrando em Teologia pela PUC-PR.
Olhando o noticiário desta semana, conversando com as pessoas, ouvindo as conversas de outras, um assunto ganhou ampla divulgação. Logicamente que, falando da semana de
O dever de quem olha, escuta, conversa e sente, é refletir e refletindo sobre tudo isto, me vêm outras reflexões, os conflitos e as possíveis conclusões. O que faço, faço a partir de meus princípios cristãos e estes têm como valor maior a vida. Foi pensando na vida que cheguei a absolutização da cultura da morte. O principal feito dos Estados Unidos da América, dito e repetido, cantado e declamado, foram duas mortes. Os maiores feitos do império Americano nos últimos dez anos, foram às mortes de Sadan Rousein e Bin Laden. Quem reflete também faz e se faz perguntas. A pergunta que me faço e nos faço é: será que isto é para tentar ocultar os milhares de mortos, sejam de soldados americanos, seja de inocentes, que a mídia insiste em chamá-los de civis, simplesmente, nas guerras justificadas pelo atentado às torres gêmeas? Algo me faz pensar que não é só isto. É, também, a cultura da morte e a cultura da dominação. A arrogância de quem pensa ter os destinos da humanidade nas mãos. E esta posse lhe dar o direito de fazer qualquer coisa, inclusive matar inocentes. Isto me levou ao furioso Herodes, que mandou matar as crianças inocentes, simplesmente por ter sido contrariado, (Mt 2,16). De certa forma, sem exageros, é esse o tratamento a quem discorda das principais instituições da sociedade. Inclusive a igreja e algumas instituições populares. O “prêmio” por ter opinião própria, por ousar discordar, é o desprezo e a indiferença. Formas também cruéis de matar.
Saio buscando nos artigos, nas reflexões e em todo canto, sintonia para minhas inquietações, luzes, quem sabe, mas pouco encontro. No meio de muitas repetições, poucos têm a ousadia profética do Padre José Combin, lembrado por Jon Sobrino em artigo na ADITAL, Assim escreve ele sobre o que disse o Padre Comblin: “Não nos enganemos. O mundo se divide entre opressores e oprimidos. Os primeiros são minorias. Os segundos, imensas maiorias”. (ADITAL, 17/08/11). Outros preferem ainda narrar suas próprias amenidades diárias como se elas fossem exemplos vivos e referência para toda a humanidade. É terrorismo fazer da realidade virtual, vivida em gabinetes e sacristias, a realidade concreta e tantas vezes injusta para as maiorias oprimidas. Vivemos uma realidade cheia de contradições e incoerências, onde é cada vez mais improvável encontrar uma liderança, partidária ou eclesiástica, sobretudo, capaz de se arriscar pela causa que dizem defender. Gastam suas energias e suas “belezas”, para se garantirem nos cargos ou para assumir outro acima do atual. Ser rebaixado de posto, nem pensar! Parece ser a maior derrota da revolução. Nem que tenha que negociar seu projeto e sua antiga causa. Vivem numa zona de conforto que os tornam meras nulidades ideológicas. Lideranças de si mesmas. Retomando o evangelista Mateus, não entram no Reino e trancam a entrada para os que desejariam nele entrar, (Mt 23,13).
É preciso ir além das constatações. É preciso ir além das narrativas e das superfícies, quase vernizes que não têm consistência e não convencem a quase ninguém. É preciso procurar mais que fatos. Procurar as razões que geraram estes fatos. Quem sabe assim, chegaremos às conseqüências destes fatos e nos convençamos de que eles são reais. Vivo, por exemplo, numa cidade que convive com um extermínio de jovens, mas que o debate que mais aparece é o de legalização da maconha. Da redução da maioridade penal. Que a conferência de juventude é feita para combater a ação da juventude. Os que ousam ser jovens são monitorados como se fossem explodir o lindo e romântico jardim botânico. A maioria se absteve de votar na plenária com medo de seus algozes. Na minha cidade, Curitiba, o presidente da câmara de vereadores, ganha concorrências de R$ 30 milhões, (trinta milhões de Reais) com uma empresa de propaganda de sua esposa, sem que, aparentemente, nenhum vereador soubesse. Pode? Penso inclusive em fazer uma campanha de marketing com algumas mensagens. “Filhos de fumantes se tornam anjos mais rapidamente”. Ou, “Drogados não envelhecem e traficantes não se aposentam”. Já que morrem ainda jovem. Depois de conhecer Frei Tito de Alencar, temos referenciais mais que suficientes para sabermos o que significa a vida. Não basta está vivo. É necessário merecer está vivo. Não me basta mais saber que meu partido ou minha igreja, minha religião ou meu sindicado, estão vivos. A pergunta é: eles merecem está vivos? O que é está vivo nestes casos? É escrever coisas que nunca sairão do papel ou efetivamente praticar aquilo que se escreve? Ou nem escrevê-las, mas praticá-las. Na verdade, as lideranças estão muito ocupadas em suas zonas de conforto, preocupadas apenas em se garantirem em seus cargos, para correr riscos “desnecessários” com compromissos assim. É melhor e mais cômodo inventar ideologias e devaneios e tratá-las como se fossem princípios fundamentais. Até quando isto funcionará?
Tem alguma coisa errada nesta história que não está certo. É preciso começar a perguntar: o quê? Por quê? Tenho visto esta geração tratar o patrimônio que recebeu da geração que nos criou, que nos formou, com displicência, às vezes com desleixo. As instituições construídas há vinte, trinta anos ou mais caindo em pleno descrédito, quando não se tornando inúteis e reproduzindo práticas opressoras e de crueldades que trariam grandes sofrimentos aos seus fundadores. As principais ações de libertação, as principais atitudes de grandeza e de fraternidade, sobretudo de gratuidade, acontecem hoje fora das estruturas institucionais. Sinto-me muito à vontade para citar aqui o caso de Jorge, pequeno empresário, dono de um pequeno restaurante no bairro do Boqueirão
Curitiba, 11 de Setembro de 2011.