"A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria". Paulo Freire

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Seca no Cariri


Cariri – Ceará, Junho de 2012

Companheiros(as) da Recid

O semiárido nordestino enfrenta a maior estiagem dos últimos 50 anos. Aqui no Cariri cearense, onde atuamos desde 2007, a Recid priorizou dentre outras ações, o acompanhamento ás comunidades rurais negras ou quilombolas. A chuva não veio e com isso as cisternas de placas e calçadão não acumularam água (em algumas regiões choveu apenas 16 mm, quando a média em inverno regular é de 600 mm). Especificamente Salitre, cidade da região, onde a base de economia é acultura da mandioca e onde se concentra o maior número de comunidades negras, os plantios não vingaram e as roças de milho e feijão se perderam ante a falta de chuva.

Estamos solidários ao nosso povo e com eles queremos partilhar nossa vivência enquanto Educadores Populares ás suas experiências de vida, cheia de labuta, sabedoria e maestria na lida com o cotidiano. Onde podemos nos encontrar enquanto Rede para prestarmos solidariedade a esses irmãos? Que ações podemos implementar que não caiam no mero assistencialismo que ganhou concretude na “indústria da seca”, mas que aponte horizontes amplos e sustentáveis? Não imaginem o que representa na casa do agricultor, lá na pontinha, que com sua roça alimenta-se, vê-se sem o feijão na panela, sem a água para beber e dá de beber.

O velho êxodo apresenta-se como solução, migrar para os grandes cortes e cana, colheitas de safras da fruticultura, deixando relações sólidas com o seu lugar e seu povo, para submetercer-se aos planos gananciosos e temporais dos grandes empreendimentos do capital.

É duro, companheiros e companheiras, sentir-se impotente ante tanta judiação.

Em quantos podemos nos desdobrar? Quais os passos mais próximos e emergenciais daremos para amainar esse quadro desolador?

Unamo-nos, reflitamos e sugiramos.

Abraços fraternos,


João do Crato – Artista Popular e Educador social da Recid Ceará.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Participação e contribuição da Recid Ceará na Cúpula dos Povos na Rio + 20 por uma justiça social e ambiental.



“O ideal, a utopia faz parte da realidade”
Edgar Morin

Com o propósito de negar a chamada “Economia Verde”, proposta pela ONU como um modelo econômico e ambientalmente correto e sustentável, por entendê-la como a nova roupagem do Neoliberalismo e válvula de escape para o Capital se restabelecer a Rede de Educação Cidadã (Recid) participou e contribuiu com a “Cúpula dos Povos na Rio + 20 por uma justiça social e ambiental” nos dias 19 a 22 de junho de 2012 na cidade do Rio de Janeiro.

A Recid entende que “a Cúpula não é uma atividade que termina em si, mas um instrumento para uma construção mais ampla. Parte de um processo de mobilização internacional e procura avançar na construção de espaços de análise da conjuntura, construção de uma agenda comum e dar visibilidade as verdadeiras soluções vindas dos povos”. Neste tocante e com a proposta de dialogar e contribuir com os demais povos da cúpula, realizamos no dia 19, uma Roda de Conversa com o tema “Educação Popular e Bem Viver”, onde a Rede Nacional, com presença representativa de todos os estados, coletivo nacional, convidados e outros que se encantaram com nossa ciranda popular, dialogaram comprometida e amorosamente sobre as práticas e conceitos de uma vida “bem-vivida”.

O diálogo se deu a partir de experiências concretas, denunciando o modelo de desenvolvimento predatório nos biomas brasileiros e anunciando práticas e aprendizados que apontam para um novo modelo de convivência a partir dos parâmetros de sustentabilidade e respeito à sóciobiodivesidade na Amazônia, Cerrado e nos biomas brasileiros.

Estiveram na roda, além dos educadores e os mais diversos povos que se juntavam na nossa circularidade, o Ministro Gilberto Carvalho, a Presidente do CONSEA – Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Maria Emília e escritor e teólogo, Marcelo Barros, que nos entusiasmou com seus falar e expressar popular sobre o que é o bem viver nas diferentes culturas e modos de vida e a importância e o papel da educação popular essa vivência
Na dinâmica das apresentações, o nosso bioma, a Caatinga, foi introduzido com uma fala legítima e coerente de um convivente do semiárido, o Educador Popular cearense, Cícero Chagas, o “Ciçô”, que referencia o enfrentamento a indústria da seca, velha conhecida de nós sertanejos nordestino, que alinhava todas as searas da nossa militância sejam elas política, histórica e cultural, e anuncia que para lutar e vivenciar o bem viver no nosso chão, devemos seguir os preceitos do Pe. Cícero, seguidor de Ibiapina, que foram entoados em coro por todos os estados do Nordeste.  

No dia 20 encorpamos e ressoamos em uma só voz, por mais que fosse a várias línguas e sons, um apelo pela vida do planeta na grande MARCHA DA CÚPULA DOS POVOS E AINDA. Ressaltando aqui que fomos impedidos de participar do Ato na Vila Autódromo pela parte da manhã do mesmo dia, o que não anulou a grandiosidade da articulação dos movimentos em marcha. Mas, registramos aqui o nosso repúdio.

No dia 21, além das várias atividades autogestionadas, como aconteceu em todos os dias da Cúpula, juntamos nossos fios na Palestra do escritor e Teólogo Leonardo Boff, que somou numa só mesa com jovens latino-americanos (Bolívia, Peru e Guatemala), constituindo um diálogo intergeracional e cultural sobre as práticas do Bem Viver;

Dia 22, último da concentração da Cúpula, mas não do seu propósito, pois como acima expressamos, ela não se encerra neste ato, indo muito além destes dias reunidos, aconteceu a plenária final, onde os movimentos e povos ali presentes agendaram atividades, unificando-as para potencializar os fazeres para o bem comum do planeta.

Este é um relato mínimo do que foi, é e, continuará sendo, se for necessário, o clamor humano e ecológico por um novo projeto para a humanidade e o planeta. Projeto este que nega o Capital em suas várias facetas, inclusive a pintada de verde.